No dia da estreia da peça Língua brasileira, de Felipe Hirsch, eu me vi num camarim, ajudando um grande ator com a prosódia de alguns versos do Guesa, de Sousândrade. Ele vinha decorando o texto há meses, fascinado pela sonoridade, pelo fluxo de palavras, pelas imagens que via ali, e que dali conseguia evocar, criar com sua voz. E ainda assim sentia que não entendia o texto de maneira mais sólida. Quem viu sua performance, depois também registrada no filme Nossa pátria está onde somos amados, não duvida de sua profunda compreensão e da capacidade evocativa de sua leitura. No entanto, o ator achava ainda que precisava de ajuda para “entender” Sousândrade.E precisamos todos.Estamos ainda nessa mesma posição de fascínio, pasmo e desorientação diante de um poeta que não cansa de ser “redescoberto”. Assim, esse novo volume, com contribuições de leitores-pensadores de peso, de saída aparece como acréscimo importante à história da literatura brasileira. Aqui, temos oportunidade de re-rever a obra de Sousândrade de ângulos novos, perspectivas múltiplas e com efeitos originais. Aqui, temos uma nova oportunidade de chegar um pouco mais perto desse constante objeto de encanto e sedução.Caetano Galindo